“Se ganhar a concessão do Cave, reconstruo o estádio imediatamente” – Luís Felipe Belmonte

O empresário, investidor e político é um dos principais interessados na concessão do Complexo do Cave, onde pretende mandar os jogos do seu time, o Real Brasília. Ele garante que, se for o concessionário, a cultura não vai perder seu espaço

Marido da deputada federal Paula Belmonte (Cidadania) e suplente do senador Izalci Lucas (PSDB), o advogado Luis Felipe Belmonte emergiu no cenário político brasiliense de uma hora para outra, de forma contundente. Ele é também o principal coordenador da criação do partido Aliança pelo Brasil, conhecido como o “partido do Bolsonaro”, porque está sendo preparado abrigar o presidente da República na sua campanha de reeleição.
Belmonte apareceu também com muita força no esporte brasiliense, ao montar o Real Brasília, um clube de futebol com confessas pretensões de chegar à primeira divisão do futebol brasileiro, reabrindo o caminho um dia percorrido pelo Brasiliense Futebol Clube, do ex-senador Luis Estevão, de quem, aliás, foi advogado.
E a cidade do Guará pode estar nesse caminho sonhado por Luis Felipe Belmonte. El é o principal interessado na concessão do Complexo do Cave, prevista para ser licitada nos próximos meses. Na verdade, o investidor está mais interessado é no estádio do Cave, para mandar seus jogos nessa caminhada em busca da elite do futebol brasileiro. O restante do complexo viria na esteira, como meio de recuperar os investimentos e oferecer opções de lazer para a comunidade.
Nesta entrevista ao Jornal do Guará, Belmonte garante que, se vier a ganhar a concessão do Cave, vai garantir os espaços culturais existentes, que são motivos de resistências de ativistas e lideranças comunitárias da cidade.

O sr. foi contratado pelo governo para elaborar o projeto técnico da concessão do Complexo do Cave e era o principal interessado na concessão, mas depois informou que não tinha mais interesse. Qual a sua posição agora?
O projeto que elaboramos estava prevista a entrega do Estádio reformado, porque, na época, os recursos já tinham sido garantidos pelo Ministério do Esporte e a obra já tinha sido iniciada. Mas, depois, a obra foi abandonada. Neste caso, o investidor que ganhasse a licitação teria que investir cerca de R$ 26 milhões, sendo que R$ 8 milhões somente para refazer o estádio, e aí a conta não fechava. Seriam necessários entre 15 e 20 anos para o negócio começar a dar retorno. Dessa forma, provavelmente ninguém se interessaria pela concessão, a não ser a quem não se preocupasse em recuperar o dinheiro investido.

O sr. fala no condicional. Mudou alguma coisa?
Tenho informações que houve uma remodelação da forma de executar o projeto, o que o tornaria viável economicamente. Nesse novo formato, o projeto físico continuaria o mesmo, mas poderia ser executado em parte e não todo de uma vez. Dessa forma, a concessão volta a me interessar, porque o Real Brasília vai precisar de um estádio para disputar seus jogos de mais apelo, que não caberiam no estádio do Defelê, que arrendamos e reformamos na Vila Planalto. Como Gama e/ou Brasiliense devem subir para a série C no próximo ano, o Real entra. E o nosso projeto é subir o clube uma série por ano. Mesmo que não seja em 2021, uma hora vai chegar a nossa vez. E o Cave é o estádio melhor localizado, ao lado da Feira, do metrô, e sua capacidade é a ideal para o tamanho do futebol brasiliense. Lembro-me dos jogos de domingo de manhã, do Clube de Regatas Guará, quando o estádio ficava lotado. Gostaria de resgatar isso com o Real.

Se vencer a licitação, o que pretende fazer com o estádio?
Reconstruí-lo imediatamente. Pode ser em partes, inicialmente com a capacidade original de 6 mil até chegar a 10 mil espectadores, porque vamos precisar de mais capacidade à medida em que o Real for subindo no cenário brasileiro.

Seria apenas para o futebol ou uma arena multiuso?
O projeto prevê uma arena multiuso, até para gerar receita para a conclusão das outras partes previstas no projeto total do Complexo do Cave. Poderia abrigar shows e outros espetáculos, porque o guaraense gosta muito de música e é muito cultural. Morei no Guará por quatro anos na década de 80 e senti isso.

Existe uma resistência de parte das lideranças locais, principalmente do meio cultural, contra a privatização, com receio de perder a Casa da Cultura, o teatro de arena…
Resistência que não se justifica. Pelo que sei, o estádio está sem receber público e jogos há mais de dez anos, o ginásio há mais de um ano fechado e clube de vizinhança nunca foi usado pela comunidade. Essas pessoas querem que o Cave continue assim por mais dez a 20 anos?
Por outro lado, essas lideranças podem ficar tranquilas se for eu o concessionário. A cultura e a comunidade não vão perder espaço, pelo contrário, podem ganhar. O objetivo do projeto é que o novo Cave ofereça mais opções de lazer aos moradores. Algumas áreas estão previstas para gerarem receita e outras não. É uma questão até humanitária. Não mexeríamos nas áreas culturais e nem da dos idosos. E podemos até melhorá-las, dependendo do plano de negócios do projeto.

Fala-se que além do sr. o Flamengo estaria interessado no Cave, para criar em Brasília uma filial para revelar jogadores e ficar mais próximo da torcida brasiliense. O sr. acredita nisso?
Sou conselheiro do Flamengo e converso frequentemente com o presidente Rodolfo Landim e o diretor institucional Alexander Santos e eles nunca me falaram nisso. Houve uma sondagem sim, do ex-presidente Bandeira de Melo, sobre uma possível parceria aqui com o Real. E essa parceria até existe informalmente, porque estamos revelando jogadores para o Flamengo, temos dois garotos lá.

O Flamengo poderia entrar com o sr. nessa licitação?
Pode ser. Existe uma afinidade entre os dois clubes. O diretor institucional Alexander Santos visitou o nosso centro de treinamento no Park Way e ficou muito bem impressionado. Temos lá quatro campos e alojamento para 60 atletas.

Paula Belmonte será candidata a governadora em 2022?
Não estamos ainda discutindo o futuro político dela. Tá muito cedo. Não sabemos ainda se vai tentar a reeleição, se vai tentar o Senado e até o governo. A única coisa que posso dizer é que a Paula é muito determinada, transparente e muito interessada no que faz. E está cumprindo o que prometeu. Não usa um centavo sequer da verba de gabinete, por exemplo.

E com o senador Izalci, o que estão conversando para o futuro?
Meu futuro político não está atrelado ao do Izalci. Claro que temos boa afinidade, mas não há outro compromisso previsto entre nós.

O que foi negociado entre vocês dois pela suplência?
Nada. Só a parceria. Fui apenas um dos financiadores da campanha dele, porque estava junto. E desde o início ele me avisou que seria candidato ao governo em 2022. Mas tudo vai depender de uma série de variantes como pesquisa, partido, alianças, para continuarmos juntos ou não no futuro.

Como está a criação do Partido Aliança pelo Brasil, que o sr. é um dos coordenadores?
Temos mais de 50 mil fichas de filiação aprovadas no sistema do TSE, 190 mil ainda não apreciadas e outras 90 mil para serem lançadas. São mais de 300 mil fichas coletadas. E a cada dia eu, Admar Gonzaga e Gilson Machado, os coordenadores da criação do Aliança, recebemos mais adesões de grupos e movimentos. E o partido ainda não foi homologado por causa da pandemia, seguida das eleições municipais, que mobilizaram os cartórios eleitorais.

Qual o prazo para registrar o partido a tempo de concorrer às eleições de 2022?
Até abril do próximo ano. Até lá, o partido estará pronto. Vamos chegar aos 600 a 650 mil filiados para os 492 mil necessários para registar o Aliança.

Que avaliação o sr. faz do governo Ibaneis?
Essa avaliação pretendo fazer melhor em 2022. Vieram me perguntar se sou eu que está plantando notícias falsas sobre ele. É uma ilação absurda, por que existe coisa pior de notícias verdadeiras do que as falsas no caso do governo dele? Basta ver as denúncias na Saúde, na aprovação do ITBI e do ICMS, em que ele foi beneficiado diretamente como pessoa, a doação de testes para a cidade dele no Piauí, entre outras denúncias. Agora, reconheço as coisas boas que tem feito e o bom quadro de secretários que tem. Alguns deles são muito bons. Por outro lado, não preciso de plantar nada falso sobre ele, porque tenho a tribuna da deputada federal Paula Belmonte e do senador Izalci para respondê-lo. Não preciso me esconder. Mas torço que faça um bom governo até o final, porque todos nós que gostamos de Brasília seremos beneficiados.

Fonte: Jornal do Guará