Assassinato do garoto João Miguel, de 10 anos, na quadra Lúcio Costa teria sido combinado entre um carroceiro e a namorada dele. Por causa de um cavalo do carroceiro que o garoto deixou fugir
Parece cíclico: de vez em quando a população guaraense se choca com algum crime bárbaro ou com uma morte comovente na cidade, com repercussão regional e às vezes nacional. E isso tem acontecido com alguma frequência. Desta vez, é o assassinato de um garoto de 10 anos na quadra Lúcio Costa, no Guará I, por causa do sumiço de um cavalo. O crime banal ganhou páginas de jornais, notícias de telejornais, de emissoras de rádio e virou a discussão do momento nas redes sociais.
O que mais chocou a população do Guará e do DF como um todo foi o sangue frio dos assassinos de um garoto por um motivo torpe. João Miguel foi assassinado porque deixou fugir o cavalo de um casal de carroceiros que mora no Setor de Chácaras do Setor Lúcio Costa. O garoto havia pegado o cavalo para ir ao Setor de Inflamáveis, ao lado, e lá teria deixado o animal fugir, no dia 30 de agosto. Após duas semanas, o carroceiro descobriu que o animal havia sido recolhido aos currais da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento (Seagri) e, para retirá-lo, a multa seria de R$ 2,5 mil. Como não dispunha desse valor e na iminência de não recuperar o animal, Jackson Nunes de Sousa, 19 anos, e a namorada dele, de 16 anos, passaram a tramar a morte de João Miguel por vingança. Sem desconfiar que estava jurado de morte, o garoto continuava frequentando o barraco do casal de carroceiros, a quem vendia produtos recicláveis encontrados por ele na vizinhança. A venda do que catava servia para a sobrevivência do garoto, que não estudava, vivia brincando nas ruas e estava com o pai preso.
A oportunidade do crime aconteceu durante uma visita de João Miguel ao barraco do casal para oferecer um equipamento de narguilé encontrado por ele. Como não estava acompanhado do primo, que era sua companhia frequente, o garoto foi presa fácil da namorada do carroceiro, que contou com a ajuda do cunhado, também de 16 anos, para enforcá-lo. Aproveitando um momento de distração de João Miguel, ela passou uma corda no pescoço dele, enquanto o cunhado, irmão do carroceiro, asfixiou a vítima com um pano. A dinâmica do crime foi contada aos policiais da 8ª Delegacia de Polícia da Estrutural pela própria criminosa.
Procura pelo garoto
João Miguel ficou cerca de 15 dias desaparecido, quando a família o procurava através de apelos e postagens nas redes sociais, até que o corpo dele foi encontrado num buraco de 2 metros de profundidade, na mata próxima ao viaduto entre o Lúcio Costa e o Guará I. O corpo estava enrolado em um cobertor, com as mãos amarradas e a cabeça para baixo, depois de ter sido desovado pelo carroceiro, que não teria participado diretamente do assassinato.
João Miguel havia sido visto pela última vez no dia 30 de agosto, no Setor de Chácaras, ao lado do Setor de Inflamáveis, comprovada por imagens de uma câmera de uma casa próxima. Nas imagens, o garoto aparecia andando sozinho pela rua, por volta de 18h do dia 13 de setembro, mas depois não foi mais visto. A tia de João Miguel procurou a polícia e contou que ele havia ido a um mercado próximo, onde costumava ir, de bicicleta.
De acordo com as apurações da política, João Miguel costumava frequentar a casa dos carroceiros para vender produtos que encontrava, mas não suspeitava que estava jurado de morte exatamente por ele, supostamente, cometer pequenos furtos na comunidade. Segundo a delegada Bruna Eira, o corpo foi ocultado pelo carroceiro com a ajuda de outro irmão dele, de 13 anos, que o ajudava no serviço de rua.
Assim que o crime foi desvendado, o irmão do carroceiro que participou diretamente do crime foi agredido com socos e pedradas pelos moradores da região e teve que ser encaminhado pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital de Base.
Justiça quer mais provas
Os três menores de idade devem responder pelos atos infracionais análogos a homicídio e ocultação de cadáver. Já o carroceiro está preso e pode pegar até 15 anos de prisão por ocultação de cadáver e corrupção de menores. Mas, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) foram, no primeiro momento, contra a internação dos três menores numa unidade socieoeducativa – o carroceiro já estava preso por ser maior de idade – porque os dois órgãos não estariam convencidos da autoria do crime de acordo com as provas apresentadas pela polícia e mesmo depois da confissão dos autores. “Em que pese a gravidade do ato em apuração, o Ministério Púbico ainda não formou opinião, solicitando mais diligência”, disse o juiz no pedido apresentado pela polícia.
No primeiro momento, após o sumiço de João Miguel por alguns dias, a própria polícia trabalhava com a hipótese de um possível crime ter relação com o pai dele, que está preso por ter atirado em um cunhado em dezembro do ano passado. A outra suspeita é que a mãe de João Miguel, que seria integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), teria a ver com o sumiço.
A polícia começou a desconfiar do carroceiro depois que a namorada dele postou no story do Instagram parte da letra da música “Dez Manfdantos”, de MC Menor do Chapa, que diz “…e os nossos inimigos nós vamos eliminar. Mesmo que custe a própria vida, a verdade eu vou falar”. A partir daí, de acordo com a delegada Bruna Eira, da 8ª DP, as suspeitas passaram a ser concentradas na família do carroceiro.
Fonte: Jornal do Guará