A prisão dele chocou professores e alunos de escola do Guará I, que nunca desconfiaram do seu passado. Crime aconteceu em 2010, por ciúmes
Dedicado e competente, de acordo com colegas da Escola Classe 02 (QI 4 do Guará I), onde lecionava como professor temporário desde fevereiro de 2024, Igor Azevedo Bomfim estava acima de qualquer suspeita. Por isso, o choque de colegas e alunos quando surgiu a notícia que ele havia sido preso acusado de matar a esposa, Mayara de Souza, há 14 anos, no interior da Bahia. Na época, a vítima tinha 22 anos. Somente agora, após o segundo julgamento, é que ele foi preso mas já conseguiu liminar para aguardar a conclusão do processo penal.
De acordo com o inquérito e relatos das testemunhas, Igor tinha ciúmes excessivos de Mayara, por ser bonita e bem mais jovem, a ponto de monitorar todos os passos dela. Após uma discussão na noite do crime, ele teria ameaçado a esposa com um revólver no rosto. Com medo, ela então pediu a ajuda de um amigo enquanto se preparava para sair de casa já prevendo que o marido iria retornar mais tarde. Enquanto ela tomava banho para sair de casa, e sem que o amigo tivesse percebido, Igor saltou o muro dos fundos da casa, entrou no banheiro e deu dois tiros fatais nela.
Após o crime, Igor fugiu de moto até a fazenda do pai e se apresentou à polícia 12 dias depois. Alegou que matou a esposa “em defesa da honra”. Em 2013, ele mudou-se para o Guará logo depois de ser absolvido no primeiro julgamento. Aqui, ele levava uma vida normal, como se nada tivesse acontecido, com a segunda mulher, filhos, e era síndico do prédio onde morava, no Guará I.
Igor Bomfim foi indiciado pelo crime em 2012, mas absolvido pelo Tribunal do Júri da cidade de Santa Rita de Cássia, a cerca de 1 mil quilômetros de Salvador, onde moravam. Entretanto, a família de Mayara conseguiu a anulação do julgamento e o agendamento de outro, que desta vez condenou Igor a 10 anos, 10 meses e 18 dias, em regime prisional fechado. Como a defesa dele recorreu, Igor aguardava em liberdade enquanto lecionava na escola pública do Guará após ser selecionado no processo de professor temporário da Secretaria de Educação. Mas, na semana passada, o processo do crime transitou em julgado e a Justiça da Bahia expediu o mandado de prisão dele.
Após o primeiro julgamento que absolveu o criminoso confesso, moradores de Santa Rita de Cássia organizaram um protesto, com faixas, cartazes e camisetas e protestaram em frente ao fórum da cidade contra a impunidade de Igor.
“Ficamos todos atônitos aqui na escola com a notícia. Ele era um ótimo profissional e respeitoso com todos nós”, afirma uma professoa da Escola Classe 2, que prefere não se identificar. “Nunca iria imaginar que ele houvesse cometido um crime bárbaro desse”, completa outra profissional da escola. Mais ninguém na escola quis falar à reportagem, mesmo sob a condição de anonimato. Nem os alunos. O clima é de perplexidade diante da notícia de que um professor homicida convivia entre eles.
Segundo julgamento
A pedido da família de Mayara, o Ministério Público do Estado da Bahia recorreu e conseguiu anular o primeiro júri. Enquanto aguardava a remarcação de outro julgamento, Igor continuou a vida normalmente, até ser condenado no segundo julgamento em 4 de junho último, mas, por causa de recursos interpostos por seus advogados, ele continuou solto até 14 de novembro, quando foi preso.
Igor Bonfim, entretanto, ficou preso por menos de uma semana, porque nesta segunda-feira, 18 de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) expediu o alvará de soltura dele, sob a alegação de que houve “prejuízo processual ao réu”, por um possível erro no julgamento do recurso especial. Os autos do processo serão enviados ao STJ para a continuidade do julgamento do recurso especial, mas, enquanto isso, Igor continua solto, mas não retorna mais à escola como professor temporário.
Secretaria de Educação se exime de responsabilidade
A Secretaria de Educação, em nota, respondeu que, “o profissional citado pertence aos quadros funcionais de contrato temporário da Secretaria de Educação. No caso de professor que se encontra em regime carcerário, o afastamento é imediato. Com a condenação, o registro será inserido no sistema, impossibilitando futuras convocações como professor substituto”. A Secretaria de Educação informou ainda que, para esse processo, o edital exige a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais, entre outros documentos, como foram apresentados por Igor, que ainda não havia sido condenado. Ressaltou que a documentação é analisada pela respectiva Regional de Ensino, que verifica a conformidade com os requisitos estabelecidos.